não
esperamos
nada
em
troca,
as
diferenças
se
tonam
aliadas...
só um lugar para passar o tempo...

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão - Sangue insensato e vagabundo -
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Ariano Suassuna

Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio de Mário Quintana: "Para estar ao lado sem pesar com a presença". Há outras histórias e poemas interessantes no livro, mas me detive nesta frase porque não pesar aos outros com nossa presença é um raro estalo de sensibilidade.
Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura.
Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa. Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados.
Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone.
Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho.
Pessoas estão jantando.
Pessoas estão preocupadas.
Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo.
Pessoas estão chorando.
Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando.
Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los, sabendo que nada interromperei do lado de lá.
Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade.
Dizemos pelo computador coisas que, face a face, seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo?
Nem se discute que o encontro é sagrado.
Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios.
Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela.
Quando mando flores, vou junto com o cartão.
Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço.
Martha Medeiros
Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara : a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas.
Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante.
É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante você fazer algo por alguém e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer...
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho e solidariedade.
É elegante o silêncio, diante de uma rejeição....
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
É elegante a gentileza; atitudes gentis falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém? É muito elegante.
Dar o lugar para alguém sentar? É muito elegante.
Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Oferecer ajuda? Muito elegante.
Olhar nos olhos ao conversar? Essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesma a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras".
Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura.
Toulouse Lautrec

Têm para mim chamados de outro mundo
as noites perigosas e queimadas,
quando a lua aparece mais vermelha
são turvos sonhos, mágoas proibidas,
são ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo aqui.
Será que mais alguém vê e escuta?
Sinto o roçar das asas amarelas
e escuto essas canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.
Diluídos na velha luz da lua,
a quem dirigem seus terríveis cantos?
Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.
Que vale a natureza sem teus olhos,
ó aquela por quem meu sangue pulsa?
Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...
Mas, não: a luz escura inda te envolve,
o vento encrespa as águas dos dois rios
e continua a ronda, o som do fogo.
Ó meu amor, por que te ligo à morte?
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.
A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.
A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colassanti
As coisas simples dizem-se depressa ;
tão depressa que nem conseguimos que as ouçam.
As coisas simples murmuram-se; um murmúrio
tão baixo que não chega aos ouvidos de ninguém.
As coisas simples escorrem pela prateleirada loja;
tão ao de leve que ninguémas compra.
As coisas simples flutuam como vento;
tão alto, que não se vêm.
São assim as coisas simples:
tão simples como o sol que bate nos teus olhos,
paraque os feches, e as coisas simples passem
como sombra sobre as tuas pálpebras.
Nuno Júdice
Pene ao Lobo Canadense
A Cor Púrpura é um romance feminista sobre a força e dignidade do espírito humano. O livro retrata a história de Celie, uma mulher negra que foi violada pelo seu pai e entregue nas mãos de um homem abusador.
Durante grande parte de sua vida, Celie foi mais escrava do que esposa, além de ter sido separada do seu filho e da sua irmã. A vida da mulher muda completamente quando ela se apaixona pela amante do seu marido.
A comovente trajetória de Celie se passa no século passado, e tem início na pequena cidade da Geórgia (EUA) em 1909, em uma época marcada pelo racismo. Com apenas 14 anos, ela é violada pelo pai e se torna mãe de duas crianças. Após ser separada das pessoas que mais ama (filho e irmã), seu pai e entrega para "Sinhô", que é apaixonada por Docí Avery, uma sensual cantora de blues, que torna-se sua amante.
A amante de "Sinhô" torna-se amiga de Celie, com quem tem um caso amoroso. Solitária, Celie compartilha sua tristeza escrevendo cartas, para Deus e também para sua amada irmã Nettie, que tornou-se missionária na África.
No desenrolar da trama, Celie revela um espírito brilhante, mostrando seu valor diante das possibilidades que o mundo lhe oferece.
O interessante é que o livro de Alice Walker é narrado em primeira pessoa, com uma linguagem muito peculiar de Celie, que é semi-analfabeta.
(…) O gélido pensamento, cruza um emaranhado de rumores sem importância alguma. Na quietude desse pensamento surge o nada e deixo-me cair no seu vazio. Há um mutismo relativo. Respira-se com dificuldade os sorrisos de quem nos acode. Num lado levanta-se a alma, no outro regride o desejo. Firme, assim fico à espera do seu vaivém.
Basta o sensual de mim,
para te despertar em insana volúpia,
em olhar de êxtase, em boca a profanar
as mais obscenas palavras de desejar.
Basta o sensual de mim
para te provocar
em chegar no máximo de meu corpo
e nos lençóis molhados de você.
Basta o sensual de mim
para que eu também desperte
e insandeça no simples
querer do teu sal.
Basta o sensual de mim
para que nossas vozes emudeçam
e as noites sejam longas
no sabor de nossos corpos.
Basta o sensual de mim
para te ter em sabor e suor
dentro de mim.
( Beth Santana)
Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880), é um clássico da literatura que tem se perpetuado no tempo e se popularizado por meio de edições mais baratas – porém de excelente qualidade gráfica – e em versões pocket book. Uma delas foi traduzida por Enrico Corvisieri e publicada pela LP&M Editores, em 392 páginas.
Quando escreveu este título, em meados da década de 1850, Flaubert sequer imaginava que este livro poderia lhe consagrar enquanto autor. Publicou alguns dos seus textos ainda na juventude – muitos inspirados pelo amor platônico por Elisa Schlesinger, onze anos mais velha e casada – mas com eles não conquistou a notoriedade. Entre suas obras estão Memórias de um Louco (1838), Novembro (1842) e Educação Sentimental (escrita em duas versões: em 1845 e 1869; respectivamente).
De acordo com a biografia do autor, as produções de Flaubert sempre foram motivadas por paixões. Por ser um romântico inveterado, expressava seus próprios sentimentos por meio de seus personagens, não fugindo à regra daqueles que também sofriam do “mal do século”. Extravasava sua subjetividade ao transferir suas expectativas, anseios e dores para histórias apaixonantes.
O mesmo aconteceu com o célebre Madame Bovary. O escritor teria se inspirado no tórrido romance que viveu com Louise Collet, casada e mãe de uma adolescente. Muitos afirmam que esta foi a verdadeira protagonista da história. Flaubert, entretanto, despistou, afirmando naquela época: “Madame Bovary sou eu”. O fato é que tanto Collet quanto Ema Bovary foram mulheres à frente do seu tempo.
Na época em que as mulheres ainda estavam proibidas de expressar sentimentos e desejos, desconheciam a participação política, e eram criadas e educadas para serem apenas esposas, mães e donas-de-casa; Ema Bovary seguiu na contramão. Infeliz no casamento, a protagonista escapou da realidade por meio da leitura de romances açucarados. O enredo – divido em três partes – se desenvolve quando a sonhadora dona-de-casa trai o marido em busca da própria felicidade; inadmissível para os rígidos padrões do século XIX.
Ao mesmo tempo em que projetou Gustave Flaubert, o livro também causou grandes problemas ao autor. Após a publicação de Madame Bovary – cujos trechos considerados mais “picantes” foram censurados – na Revue de Paris, em outubro de 1856, o escritor foi processado pela “imoralidade” da obra. O fato é que o livro foi de encontro à ordem burguesa, às suas convenções sociais e à moral católica. Um ano depois, o autor foi julgado, absolvido e teve a obra publicada na íntegra.

Muitas pessoas dizem "saúde" quando alguém espirra, mas ninguém diz nada parecido a alguém que tosse ou assoa o nariz.
O que este tipo de expressão quer dizer, na verdade?
Desejar o bem da pessoa que espirrou é algo que, provavelmente, originou-se há milhares de anos.
Os romanos diriam "que Júpiter cuide de você" ou "Salve", que significava "boa saúde para você".
Enquanto isto, os gregos desejariam uns aos outros "vida longa".
A frase "Deus te abençoe" é atribuída ao Papa Gregorio, o Grande, que a pronunciou no século 6 durante a epidemia de peste bulbônica (espirrar era um sintoma evidente de um tipo de peste).

Era uma vez um homem que enquanto viajava entrou acidentalmente no paraíso.
Neste paraíso, existiam árvores dos desejos.
Bastava sentarmo-nos debaixo delas, pedirmos um desejo e imediatamente o desejo tornava-se realidade - não havia intervalo entre o desejo e sua realização.
O homem estava cansado e adormeceu à sombra da árvore-dos-desejos.
Quando despertou, estava com muita fome, e pensou:
- Estou com tanta fome, quem me dera encontrar qualquer coisa para comer.
E imediatamente apareceu comida vinda do nada, simplesmente uma refeição deliciosa flutuando no ar.
Ele estava tão faminto que não quis saber de onde é que a comida viera (quando se está com fome, não se é filósofo!).
Começou a comer imediatamente, a comida estava deliciosa...
Depois, tendo saciado a fome o homem olhou à sua volta...
Outro pensamento surgiu na sua mente:
- Se ao menos pudesse ter algo para beber...
E como não há proibições no paraíso, imediatamente apareceu um excelente vinho.
Bebendo o vinho descontraidamente aproveitando a brisa fresca do paraíso, sob a sombra da árvore, começou a pensar:
- O que está a acontecer? O que se passa? Estarei a sonhar ou existem espíritos à minha volta ?...
E os espíritos apareceram.
E eram ferozes, horríveis, hediondos.
O homem começou a tremer e mais um pensamento surgiu na sua mente:
- Agora vou ser assassinado, com certeza!
E foi assassinado.


· - 1 quilo de camarão médio
· - 4 colheres (sopa) de azeite
· - 2 dentes de alho
· - 1 cebola
· - 5 tomates sem sementes
· - sal e pimenta a gosto
· - 1 lata de creme de leite sem soro
· - 300g de requeijão cremoso
· - 1 moranga
Modo de preparo
· Retire a tampa da moranga e a seguir, as sementes
· Lave e enrole-a em papel alumínio
· Leve ao forno e asse por 45 minutos
· Reserve
· Em uma panela, aqueça o azeite e refogue o alho e a cebola
· Junte os tomates picados, a pimenta, o sal e 3 colheres (sopa) de catchup (opcional)
· Desligue
· Acrescente o creme de leite
· A seguir, agregue os camarões aferventados
· Cozinhe por aproximadamente
· Reserve
· Espalhe o requeijão dentro da moranga reservada
· Despeje o creme de camarão
Acompanha um bom vinho branco.
Delicie-se!!!